quinta-feira, 9 de junho de 2011

Diálogo I

-Queria ser Nelson Rodrigues agora, Machado, Gomes Dias, um desses grandes.

-Porque?

-Para saber como colocar “ela” num texto, tirar apenas das conversas de bares entre amigos.

-Sinceramente nunca entendi essa sua fixação por alguém que não existe.

-Claro que existe!

-Ainda acho que você está ficando louco. Filosofando durante horas em cima de um sonho que teve . Faz quanto tempo que você começou com isso?

-Já fazem quatro anos. Fazia um frio e eu simples me perdi. Era um pivete. Acordei pouco com a imagem na minha cabeça, cabelos negros, pele...

-Bem branca, quase pálida, olhos castanhos e escuros como a noite e lábios vermelhos que se assemelhavam ao veludo. Isso eu já sei, escutei isso vindo de você bêbado no Ano Novo, que você deixou de pegar aquela loira. Que loira! Como era o nome dela mesmo?

-Camila, Carolina, Carlota. Sei lá o nome dela. E obrigado por me cortar animal.

-Desculpa, mas o nome da loira era mais importante. Nunca entendi porque deu um fora nela. Se falar que o motivo é uma morena da tua imaginação, eu te esgano. Você vai ser o maior imbecil da terra.

-Não, posso ser até um tolo, apaixonado por uma fantasia. Mas nunca deixei as de carne e osso de lado. A loira era muito burra, clichê, mas era. Perguntei o que ela achava do Hemingway.

- E ela?

-Disse que não gostava muito dessa marca de cerveja. Dai enfureci e mandei se ferrar.

-Realmente fez bem, ou não ela era tão gostosa. Mas agora me responde. Apaixonado?

-Pois é, apaixonado.” Ela” existe, eu sei disso. Isso não é apenas um sonho é mais concreto, veio de um sonho, de uma divagação. Talvez ela não seja morena, talvez a aparência seja completamente diferente. É a representação de algo mais inteiro, concreto.

-Sinceramente. Um livro ou qualquer texto sobre isso seria um lixo.

-Talvez.

-E como você pretende achar “ela”?

- E quem disse que não achei?

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