domingo, 14 de agosto de 2011

Diálogo II

-Morrer não seria algo tao ruim.

-Claro que seria!
-Eu estive pensando nisso e não parece ser horrível.
-Como não? E as pessoas que gostam de você? Os seus sonhos?
-A questão é que depois que eu me for não ligarei mais para isso, serei leve e livre. Sem pressões ou decepções.
-Isso é puro egoísmo, você devia sentir vergonha de si por pensar em algo assim.
-Egoísmo é eu continuar aqui nesse limbo chamado terra esperando a minha morte, esperando que o final dessa minha curta e insignificante história que está sendo a minha vida se concretize. Eu não sou egoísta eu não penso nisso só por mim, a dor com o tempo vai sumir e eu vou virar uma leve lembrança, os meus defeitos vão ser esquecidos e só os sorrisos relembrados.

Ele se levantou da poltrona, deixou o espelho que segurava na mesa ao lado, andou de vagar até seu quarto. Sentou na cama, pensou mais um pouco, levantou-se, desceu até a cozinha. Ligou o gás e fechou todas as portas e janelas. Pegou um copo na mesa, abriu a geladeira e pegou o leite. Puxou uma cadeira e sentou devagar, já sentia o cheiro forte de metano, para pensar pela última vez.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Diálogo(indireto) I

Era noite, o céu limpo. Frio, era inverno. Queria poder te abraçar como da última vez, sentir você comigo novamente, Não diga bobagens, o tempo não volta e o passado não se repete tão facilmente, É uma pena, Talvez, na verdade eu nem sei mais direito sobre o que você está falando, Chega a ser engraçado você dizer isso, mas eu já sabia só não queria admitir, você me esqueceu, o tempo passou e eu nem percebi, Eu não te esqueci por completo, penso em você as vezes, quando chove, Acho que essa lembrança é a única parte que eu pude reconhecer em você, Mudei bastante, Somos dois, Nem tenho mais os cabelos pretos, E nem eu você em meus sonhos.

Algo tinha mudado, era quase imperceptível para os dois. Já não era mais inverno, o tempo passou muito rápido. Era verão e estava quase acabando. Acho que agora é adeus, posso até dizer que vamos nos encontrar no futuro, Eu entendo o que quer dizer, não quero ficar prolongando a despedida, então adeus.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Diálogo I

-Queria ser Nelson Rodrigues agora, Machado, Gomes Dias, um desses grandes.

-Porque?

-Para saber como colocar “ela” num texto, tirar apenas das conversas de bares entre amigos.

-Sinceramente nunca entendi essa sua fixação por alguém que não existe.

-Claro que existe!

-Ainda acho que você está ficando louco. Filosofando durante horas em cima de um sonho que teve . Faz quanto tempo que você começou com isso?

-Já fazem quatro anos. Fazia um frio e eu simples me perdi. Era um pivete. Acordei pouco com a imagem na minha cabeça, cabelos negros, pele...

-Bem branca, quase pálida, olhos castanhos e escuros como a noite e lábios vermelhos que se assemelhavam ao veludo. Isso eu já sei, escutei isso vindo de você bêbado no Ano Novo, que você deixou de pegar aquela loira. Que loira! Como era o nome dela mesmo?

-Camila, Carolina, Carlota. Sei lá o nome dela. E obrigado por me cortar animal.

-Desculpa, mas o nome da loira era mais importante. Nunca entendi porque deu um fora nela. Se falar que o motivo é uma morena da tua imaginação, eu te esgano. Você vai ser o maior imbecil da terra.

-Não, posso ser até um tolo, apaixonado por uma fantasia. Mas nunca deixei as de carne e osso de lado. A loira era muito burra, clichê, mas era. Perguntei o que ela achava do Hemingway.

- E ela?

-Disse que não gostava muito dessa marca de cerveja. Dai enfureci e mandei se ferrar.

-Realmente fez bem, ou não ela era tão gostosa. Mas agora me responde. Apaixonado?

-Pois é, apaixonado.” Ela” existe, eu sei disso. Isso não é apenas um sonho é mais concreto, veio de um sonho, de uma divagação. Talvez ela não seja morena, talvez a aparência seja completamente diferente. É a representação de algo mais inteiro, concreto.

-Sinceramente. Um livro ou qualquer texto sobre isso seria um lixo.

-Talvez.

-E como você pretende achar “ela”?

- E quem disse que não achei?

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sem Título [3]

Meu nobre vicio, nunca consegui te largar. E agora não te tenho por completo, está escasso, difícil de se achar. Mas mesmo assim o que eu encontro eu agarro e não vou largar até ter usado cada grama ou gota que você gerar. E depois, talvez por não ser tão pura, acaba comigo, paralisa meu corpo a ponto de não conseguir piscar. Fico mal durante dias na cama, virado sempre para o mesmo lado, tentando seguir em frente e não te procurar mais.

Passam-se os dias e eu estou bem, de pé, pronto para seguir adiante e ai, como a morte que transforma a noiva de 25 em viúva aos 26, começa o suor. Um suor frio que aos poucos me faz tremer e que nunca esta sozinho, junto a ele uma dor pungente e continua. Viver se torna impossível, se não fosse tão covarde já teria resolvido esse problema anos atrás. Mas covardia é parte de mim, então eu te procuro.

Entre becos, ruas vazias, esquinas sujas, praças e nas partes nobres, de classe, dessa cidade decadente que nasci. E eu te encontro, quase sem ar, quase sem sangue, entre os meus últimos suspiros. Eu te olho, você sorri e todo esse ciclo está pronto para recomeçar.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

XIX

Verão, conheci seu rosto

Tão bela

Não conseguia parar de olhar

Precisava vê-la novamente


Outono, conheci seus olhos

Algemaram minha alma ao meu amor

Não conseguia respirar

Precisava tê-la


Inverno, conheci seus lábios

Tão vermelhos

Não conseguia parar de sonhar

Não precisava de mais nada


Primavera, um mal entendido

A dor não cessa

Não tenho mais lágrimas

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

sou convincente

quarta-feira, 25 de março de 2009

Manhã;

Já sinto que é de manhã, mas lá fora ainda é noite, e a escuridão iluminada pelas estrelas, servem como um manto cobrindo a cidade. Estou me preparando para dormir, retirar, e durante algumas horas esquecer que existo, de meus problemas tão fúteis, mas mesmo assim conseguem incomodar, cutucam, minhas feridas abertas, forçando minha existência incerta.

O tempo vai passando, o cansaço, vai pesando cada vez mais, ao longo dessa noite fria, junto ao mundo que em cima de meus ombros vive. Esmagando, consumindo, degradando, cada pedaço de meu corpo. Nada pode impedir meu destino, de abrir os olhos e acordar amanhã; vestir minha roupa, fazer a cama, tomar café, e logo após um longo banho, almoçar entre o meio dia e a uma, ir para o meu quarto, e sutilmente sentar em minha cadeira, vendo lentamente as horas passarem, pelo meu relógio vermelho.

Pensamentos incertos, confuso, sofridos. Sinto mesmo me recusando a sentir, algo me atrai a olhar a janela, é sim, algo lá fora prende meus pensamentos. Levemente ergo a persiana, percebo, corro ao outro canto de meu quarto, e afobado olho no calendário, segunda de Carnaval. A inquietude passa , algo me assusta, amedronta, dou um passo para trás. Infelizmente isso foi apenas, a terrível realidade, os sentimento que pensei ter perdido no passado, me atingem novamente, calo, paro e penso no que fazer, já é noite lá fora, estou caçado novamente.

Deito em minha cama, vou dormir. Para no dia seguinte, acordar com a mesma sofreguidão, e me lembrar, que eu junto ao tempo, enfinco, novamente, uma faca em meu peito, que dilacera e estraçalho meu amargo coração.